segunda-feira, maio 09, 2011

 

Geração Rasca foi a minha !!!

Geração Rasca foi a minha e a do meu Pai !

Foi uma Geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e
da guerra colonial, onde era proibido ser diferente, pensar que todos
deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.

Angola - 1971
Bairro Barracas - 1964 - França

Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres sem
direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de
crianças analfabetas.

Pide - DGS




A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.

Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio
proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.

Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto,
casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras
porque sim, pais biológicos, etc.

A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o
chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país
ou de ler-lhe a correspondência.

Os televisores LED, ou a 3 dimensões eram uns caixotes a preto e branco onde
se colocava à frente do ecrã um filtro colorido, mas apenas se conseguia
transformar os locutores em ET's desfocados.












Na rádio ouviam-se apenas 3 estações - a oficial Emissora Nacional, a
católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português.
À socapa lembro-me do meu avô escutar muito baixinho a Rádio Moscovo.
Não tínhamos  então os Gato Fedorento, mas dava-nos imenso gozo ouvir
Os Parodiantes de Lisboa, ou a Voz dos Ridículos.


Emissora Nacional



Radio Clube Português


As Raves da época eram as festas de garagem, onde se ouvia música de vinil e
se fumava uma brocas de liamba das colónias.

Nada de Bares ou Danceterias.

As Docas eram para estivadores, e O Jamaica do Cais do Sodré para marujos.
A "Night" era para os boémios. Éramos a geração das tascas, das casas de
fado e das boites de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam
discos, como a Valentim de Carvalho ou a Vadeca.

As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que a juventude
enviava lá da guerra aos pais, noivas, namoradas ou madrinhas de guerra.

Agora vivem na Internet, ora alimentando números de socialização no
Facebook, ora cultivando batatas no Farmville. Os SMS e E-Mails cheios de k
e vazios de assentos eram as nossas cartas e postais ou papelinhos
contrabandeados nas aulas.

As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas por via marítima. Quem não
se lembra do Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre outros, tenebrosos
navios que, quando se embarcava, só se tínha uma certeza - a viagem de ida,
quer fosse para Angola, Moçambique ou Guiné.


Navio Niassa - 1959 - Partida para a Indía

Quanza - Fev.1962 - Partida para Angola


Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam
doentes.
Coca-Cola e Pepsi? Eram proibidas.
Bebia-se laranjada, gasosa ou pirolito.


       


Agora IMAGINEM, o que teriam para contar e escrever sobre a sua geração, se
o soubessem fazer os analfabetos, nascidos na década de 30 e 40 do século
passado, que viveu os despojos da 2ª. guerra mundial e todos os seus efeitos
posteriores, desde o RACIONAMENTO, com o uso de SENHAS, que condicionavam
os bens mais comezinhos, como o acesso ao carvão, às bolas de carvão, ao
petróleo para uso nos fogareiros, limitava o nº. pães/carcaças às famílias,
não havia azeite, açúcar bem como a maioria dos bens alimentares, as
famílias completas com 4 e 5 filhos, viviam em buracos telúricos, barracas,
quartos ou partes de casa alugadas, as pessoas andavam descalças, rotas mas
sem ser por moda, passavam verdadeira fome, empenhavam tudo o que havia em
casa à 4ª.Feira, para depois levantar da casa de penhores, se pudessem, ao
sábado, dia de receber o reles salário, num ciclo vicioso.

Os atrás citados, são a geração dos actuais avós ou bisavós, que ainda
vivos continuam a não contar aos descendentes por vergonha do seu passado e
depois na ânsia de darem uma vida melhor aos seus filhos e netos os
estragaram com mimos e benesses e contribuíram inconscientemente, para que
eles enveredassem desmesuradamente pelo consumismo de toda a ordem, criando
uma dívida descomunal sem procedentes na história do país .

Esta é que é uma verdade insofismável que poucos tem a coragem de contar.

Na minha geração e de meu pai, dos jovens só se esperava que fossem para a tropa ou emigrassem.

Na minha Geração o País, tal como as fotografias, era a preto e branco.



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